Total de visualizações de página

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Oppenheimer fabricando a bomba atômica exclamou: “Transformei-me na Morte, a destruidora dos mundos”.





Ele liderou o desenvolvimento da primeira bomba atômica. Mas Julius Robert Oppenheimer não foi apenas o homem que esteve à frente do Projeto Manhattan. Ele deu uma importante contribuição na fase inicial da mecânica quântica e publicou um dos primeiros modelos teóricos de um buraco negro. O “pai da bomba” foi fundamental para que os Estados Unidos vencessem a corrida com os nazistas na construção da arma de destruição mais impressionante e assustadora já criada.

Oppenheimer foi um cientista e um professor carismático. Durante 20 anos como diretor do Instituto de Estudos Avançados, em Princeton, ele foi o “chefe” de gênios como Albert Einstein, von Neumann e Gödel. Além disso, inspirou toda uma geração de físicos. Homem sofisticado e de cultura excepcional, ao ver o cogumelo atômico nos teste no deserto americano, murmurou palavras do Bhagavad-Gita, o sagrado texto hindu.
“O homem arrancou à força da natureza o poder de fazer do mundo um deserto ou de fazer florir os desertos. Não existe mal no átomo; apenas nas almas dos homens.”
Mas Oppenheimer foi visto também como arrogante e elitista por alguns. Para piorar, quando se tornou um figurão em Washington, suas opiniões de esquerda e sua postura criaram várias inimizades políticas. Nos sinistros tempos do macarthismo, acabou perseguido na caça aos comunistas o que o levou à ruína.

A vida e o trabalho desse cientista que nos laboratórios secretos de Los Alamos dirigiu o mais impressionante grupo de intelectuais já reunidos em qualquer época.
Oppenheimer:
Julius Robert Oppenheimer nasceu em 22 de abril de 1904, em Nova York. Pertencente a uma família judia que fez fortuna na importação de têxteis, Oppenheimer estudou na Ethical Cultural School, onde revelou ser um aluno circunspecto, solitário e intelectualmente brilhante. Em 1922, foi estudar química em Harvard. Nessa época, além de mostrar sua superioridade acadêmica, escrevia poesia de vanguarda e pintava.

No terceiro ano em Harvard, graças à influência do professor Percy Bridgman (que ganharia o Prêmio Nobel por produzir os primeiros diamantes artificiais sob pressão), Oppenheimer descobriu que seu verdadeiro interesse estava na física. Após concluir sua graduação, ele foi para o Cavendish Laboratory, em Cambridge. Lá foi trabalhar com J.J. Thomson, descobridor do elétron. Mas seu trabalho no laboratório era inexpressivo e ele logo entrou em uma profunda crise emocional. Em uma consulta psiquiátrica foi diagnosticado com o que hoje classifica-se como esquizofrenia. Nesse momento tão delicado de sua vida, ele conheceu Paul Dirac, um jovem físico que viria a ser um dos mais importantes teóricos do século 20.

Dirac já trabalhava nos limites da teoria quântica. Ele apresentou uma teoria conhecida como álgebra quântica, que demonstrava que a mecânica quântica matricial de Werner Heisenberg e a ondulatória de Edwin Schrödinger – vistas pelos autores como teorias opostas – eram, na verdade, matematicamente equivalentes. Oppenheimer não estava em pé de igualdade com Dirac e começou uma preparação intensiva para entender os últimos progressos da teoria quântica. Suas discussões sobre o tema com Dirac o levaram a escrever uma série de artigos relacionados à estrutura atômica que chamaram a atenção. O resultado foi um convite para trabalhar em Göttingen com Max Born e outros gigantes da ciência, como Niels Bohr, Eisenberg e Fermi.

No período em Göttingen, Oppenheimer publicou vários artigos com importantes contribuições para a mecânica quântica. Após receber o seu PhD em 1927 e se encontrar com Wolfgang Pauli, o grande especialista suíço em teoria quântica, decidiu voltar aos Estados Unidos para ser professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Oppenheimer se destacou como professor e descobriu suas qualidades de liderança. Mas nem todos o viam assim. Para alguns, ele não passava de um notável diletante.

Em 1936, Oppenheimer se apaixonou por Jean Tatlock, uma atraente estudante de pós-graduação ligada ao Partido Comunista. O envolvimento com Jean o levaria a se engajar na política. Ele já havia percebido que não seria um físico genial como Dirac, mas tinha muito talento para liderar equipes de pesquisadores e tirar o melhor deles. Em 1937, Oppenheimer herdou uma fortuna do pai e parte dela ele usou para financiar organizações antifascistas. Em 1.º de setembro de 1939, enquanto a Alemanha nazista invadia a Polônia e iniciava a Segunda Guerra Mundial, Oppenheimer em parceria com Hartland Snyder publicou o ensaio “Sobre o colapso gravitacional contínuo”, que descrevia o fenômeno que nos anos 60 seria nomeado como buraco negro.

Enquanto isso, o dinamarquês Niels Bohr descrevia em teoria a possibilidade da fissão nuclear. Possibilidade que se tornara real na Alemanha a partir dos experimentos do radioquímico alemão Otto Hahn e da austríaca Lise Meitner. Ao descobrir que a Alemanha nazista já sabia dessa possibilidade, o antinazista Bohr foi para os Estados Unidos e contou o fato a Albert Einstein que, por sua vez, fez a notícia chegar até o presidente Roosevelt. Alarmado com a possibilidade dos nazistas construírem uma arma de destruição apocalíptica, o presidente norte-americano autorizou a criação do ultrasecreto Projeto Manhattan, do qual nem Einstein sabia da existência.

No início, o Projeto Manhattan foi desenvolvido em vários laboratórios e universidades pelos Estados Unidos para a produção do suprimento necessário. A transformação disso em uma bomba seria feita a partir da reunião das maiores mentes científicas em território norte-americano. Para liderar essa iniciativa, o governo encontrou em Oppenheimer todas as qualificações necessárias.

O Projeto Manhattan era dirigido pelo corpulento e impetuoso general Leslie Groves, um homem com personalidade totalmente oposta a de Oppenheimer. Mas, surpreendentemente, os dois se deram muito bem. A primeira sugestão do físico foi que o desenvolvimento da bomba se concentrasse em um único lugar. Mais precisamente em Los Alamos, no Novo México. Um local a dois mil metros de altitude no meio do deserto, sem nada ou ninguém no entorno até onde os olhos pudessem alcançar. O lugar foi então transformado num complexo industrial cuja construção foi supervisionada por Groves, que havia sido o responsável por construir o prédio do Pentágono.

Los Alamos acomodou três mil pessoas, entre elas estavam os mais brilhantes jovens cientistas dos Estados Unidos, que foram persuadidos por Oppenheimer a irem trabalhar lá. O Projeto Manhattan acabou por juntar em Los Alamos o maior grupo de intelectuais já reunido em qualquer época. Mas quando os trabalhos começaram, relatórios encaminhados pelos serviços de inteligência ao general Groves apontavam que Oppenheimer era um espião e que sua namorada era do Partido Comunista. Groves exigiu uma explicação do físico e ficou impressionado com a franqueza e as convicções de Oppenheimer.

Naqueles anos, o físico conheceria Kitty Harrison, uma princesa alemã naturalizada americana de 33 anos de idade. Eles logo se casaram e em 1941 nasceu o primeiro filho do casal. Mas em suas idas a Berkeley para supervisionar a transferência de equipamentos e o recrutamento de pessoal, Oppenheimer visitava sua antiga namorada comunista e muitas vezes dormia no apartamento dela. Ele era vigiado de perto pelo FBI, que sob a liderança de J. Edgar Hoover não admitia que na liderança de um projeto de tal importância estivesse um comunista e adúltero. Em 1944, Jean Tatlock suicidou-se. Em casa, a esposa de Oppenheimer se embebedava. A vida pessoal do homem que liderou a construção da bomba atômica não era das mais tranquilas.

Sob forte pressão, os gênios reunidos em Los Alamos tentavam encontrar o caminho entre a fissão nuclear e a construção da bomba atômica. Além disso havia problemas também na produção do material que deveria alimentar a bomba. Àquela altura, além do urânio eles já começavam a trabalhar também com plutônio, um implacável assassino radiológico (0,13 miligramas do elemento é mortal para um ser humano). Em 1943, Niels Bohr chegou aos Estados Unidos, junto com um grupo de cientistas britânicos, e avisou Oppenheimer do estágio avançado em que se encontravam os nazistas na corrida para construção da bomba.

Finalmente no final de 1944, os cientistas pareciam ter encontrado a solução para a detonação uniforme do material físsil, o grande obstáculo até então para chegarem à arma nuclear. Em 1945, a primeira bomba atômica estava pronta para ser testada. Às 5h30 de 6 de julho, no deserto do Novo México, um clarão intenso iluminou a madrugada e uma onda de choque assustadora atingiu todo o vale fazendo a terra estremecer. Uma imensa nuvem em formato de cogumelo surgiu logo após uma bola de fogo mais brilhante do que o Sol ter aparecido no céu. Oppenheimer ficou aterrorizado e à sua mente vieram as palavras do Bhagavad-Gita: “Transformei-me na Morte, a destruidora dos mundos”. A bomba que eles previram ter o poder explosivo equivalente a cinco mil toneladas de TNT alcançou, na verdade, 20 mil toneladas de TNT.

Àquela altura, a Alemanha nazista já tinha se rendido e o presidente norte-americano já não era mais Roosevelt e sim Truman. Mas no Projeto Manhattan a única coisa que mudou foi o alvo da bomba que passou a ser o Japão. Um mês após a explosão teste no deserto do Novo México, um bombardeio americano lançou “Little Boy”, uma bomba atômica de urânio, sobre Hiroshima e, três dias depois, “Fat Man”, uma bomba atômica de plutônio caiu sobre Nagasaki. Os japoneses se renderam no dia seguinte. A Segunda Guerra Mundial terminava e o mundo ingressava na Era Nuclear.

Em outubro de 1945, Oppenheimer se demitiu de Los Alamos. Dois anos depois, o pai da bomba foi nomeado presidente do Comitê Geral Consultivo da Comissão de Energia Atômica e assumiu a chefia do Instituto de Estudos Avançados, o melhor centro de pesquisa teórica do mundo que reunia cientistas como Einstein, von Neumann e Gödel. Quando a Guerra Fria começou a esquentar e o macarthismo tomou conta dos Estados Unidos, Oppenheimer voltou a ser alvo de suspeitas. Após prestar sarcásticos depoimentos a várias comissões de investigação, Oppenheimer foi demitido de seus cargos governamentais e continuou sob vigilância permanente do FBI. Em 1963, o presidente Kennedy concedeu o perdão público a Oppenheimer ao indicá-lo ao Prêmio Enrico Fermi. Em 18 de fevereiro de 1967, Julius Robert Oppenheimer morreu de câncer na garganta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário