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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

As arrasa-bunkers, bombas que penetram 30 metros no solo depois atravessam 9 metros de concreto reforçado antes de explodirem.





Há milhares de instalações militares pelo mundo que foram construídas para desafiar ataques convencionais. As cavernas no Afeganistão ficam nas entranhas das montanhas e gigantescas casamatas (ou bunkers) de concreto estão enterrados na areia do Iraque. O pior é que estas instalações abrigam centros de comando, depósitos de munição e laboratórios de pesquisa que têm importância estratégica (ou vital) na hora de levar a cabo uma guerra. Mas como são subterrâneas, é difícil encontrá-las e, dessa forma, atacá-las.

As Forças Armadas Americanas desenvolveram várias armas para atacar essas fortalezas subterrâneas: os arrasa-bunkers, bombas que penetram profundamente no solo ou atravessam vários metros de concreto reforçado antes de explodirem. Foram elas que tornaram possível atingir e destruir instalações que teriam sido impossíveis de se atacar de outra maneira.

Neste artigo, você vai aprender sobre os diferentes tipos de arrasa-bunkers para que consiga entender como funcionam e, além disso, saberá quais serão as novidades que o futuro reserva para esse tipo de arma.

Arrasa-bunkers convencionais
Durante a Guerra do Golfo de 1991, as forças aliadas sabiam que vários bunkers militares subterrâneos no Iraque eram tão reforçados e enterrados, que ficavam fora do alcance das munições até então existentes. Por causa disso, a Força Aérea Americana (em inglês) deu início a intensas pesquisas e processos de desenvolvimento para criar uma nova bomba arrasa-bunkers que pudesse alcançar e destruir esse tipo de bunkers. Em apenas poucas semanas, um protótipo foi criado, e tinha as seguintes características:

seu invólucro consistia de uma seção de aproximadamente 5 metros com um barril de artilharia de 37 cm de diâmetro. Os barris são feitos de aço reforçado, extremamente forte, para poderem agüentar os repetidos disparos feitos pela artilharia inimiga;


dentro desse envoltório de aço, escondem-se cerca de 295 kg do explosivo tritonal. O tritonal é uma mistura de TNT (80%) e pó de alumínio (20%). O alumínio melhora a capacidade de detonação do TNT, que é a velocidade na qual o explosivo desenvolve sua pressão máxima. O acréscimo de alumínio torna o tritonal cerca de 18% mais poderoso do que o TNT seria, se estivesse sozinho;

conectado à frente do barril, está um equipamento de orientação por laser. O que torna necessário que haja um batedor no solo com um marcador ou que o próprio avião bombardeiro tenha um marcador para iluminar o alvo com laser, permitindo que a bomba vá na direção do ponto iluminado. O equipamento de orientação a laser direciona a bomba com suas aletas (espécie de barbatana).

presos na parte traseira do barril, encontram-se aletas que estabilizam a bomba durante o vôo.
A bomba final, conhecida como GBU-28 ou BLU-113, tem 5,8 metros de comprimento, 36,8 centímetros de diâmetro e pesa 1.996 kg.

A partir da descrição da seção anterior, dá para perceber que o conceito por trás das bombas arrasa-bunkers, como a GBU-28, não são nada mais do que pura física. Elas têm:

um tubo extremamente forte que é:
muito estreito em comparação com sua carga
extremamente pesada

A bomba é liberada de um avião para que este tubo possa desenvolver uma velocidade bem alta e, conseqüentemente, energia cinética alta, durante sua queda.
Quando a bomba atinge o solo, tem o efeito parecido com o de um prego enorme disparado por um pregador pneumático. Nos testes, a GBU-28 penetrou até 30,5 metros no solo ou 6 metros no concreto.

Durante uma missão comum, os serviços de inteligência ou imagens aéreas/de satélite revelam a localização do bunker e uma GBU-28 é colocada a bordo de um bombardeiro Stealth B2, um F-111 ou alguma aeronave semelhante. O bombardeiro voa próximo ao alvo, o alvo é iluminado e a bomba é liberada.

A GBU-28 já foi, no passado, abrigada dentro de um FMU-143, um detonador para fazê-la explodir somente após a penetração, em vez de explodir no impacto. Também já houve várias pesquisas com detonadores inteligentes que, com o uso de um microprocessador e um acelerômetro, conseguem detectar o que está acontecendo durante a penetração e explodir no momento correto. Esses detonadores são conhecidos como HTSF (detonadores inteligentes para alvos difíceis). Acesse GlobalSecurity.org: HTSF (em inglês) para obter mais detalhes.

A GBU-27/GBU-24 (também conhecida como BLU-109) é praticamente idêntica à GBU-29, exceto pelo fato de que pesa apenas 900 kg, fazendo com que seja mais barata de se produzir e com que um bombardeiro possa transportar mais de uma em cada missão.

Para criar arrasa-bunkers que penetram ainda mais profundamente, os projetistas agora têm três escolhas:

podem deixar a arma mais pesada. Mais peso, dará à bomba mais energia cinética para atingir o alvo;


podem diminuir o diâmetro da arma. Quanto menor for a área da seção transversal, menos material a bomba tem de mover (seja ele solo ou concreto) durante a sua penetração;


podem deixar a bomba mais rápida para aumentar sua energia cinética. A única maneira prática de fazer isso seria adicionar algum tipo de motor a jato grande, que disparasse um pouco, antes do impacto.

Uma das maneiras de se deixar um arrasa-bunkers mais pesado e manter uma área de seção transversal estreita ao mesmo tempo, é usar um metal mais pesado do que o aço. Poderíamos usar o chumbo, mas ele é tão mole que seria inútil na penetração, pois acabaria se deformando ou desintegrando quando a bomba atingisse o alvo.


Foto cedida Air Force
Arrasa-bunkers GBU-28
Outra possibilidade, mas desta vez com um material que, além de ser denso, também é extremamente forte, seria o urânio empobrecido. Ele é o material preferido para armas de penetração devido a essas propriedades. Por exemplo, o M829 é um "dardo" que penetra blindagens e é disparado do canhão de um tanque M1. Esses dardos de 4,5 kg têm 61 cm de extensão, cerca de 2,5 cm de diâmetro e deixam o cano do tanque a uma velocidade de 1,6 km por segundo. A energia cinética dele é tão grande e ele é tão forte que consegue perfurar até a blindagem mais resistente.

O urânio empobrecido é um subproduto da indústria de energia nuclear. O urânio natural extraído de minas contém dois isótopos: O U-235 e o U-238. O primeiro é a versão necessária para produzir energia nuclear. Veja Como funciona a energia nuclear para mais detalhes, o que faz com que o urânio seja refinado para que se extraia o U-235 e se crie o "urânio enriquecido." O U-238 que sobra é conhecido como "urânio empobrecido."

O U-238 é um metal radioativo que produz partículas alfa e beta. Mas quando na forma sólida, não é especialmente perigoso pelo fato de sua meia-vida ser de 4,5 bilhões de anos, o que significa que decai muito lentamente. Para que você tenha um exemplo de seu uso, ele é o material do lastro em barcos e aviões. Caso você esteja curioso, aqui vão as três propriedades que tornam o urânio empobrecido útil para a arma de penetração:

densidade - o urânio empobrecido é 1,7 vezes mais pesado do que o chumbo e 2,4 vezes mais pesado do que o aço;


resistência - se pesquisar em uma página da internet como a WebElements.com (em inglês), dá para ver que a dureza Brinell (em inglês) do U-238 é de 2.400, somente um pouco abaixo do tungstênio (2.570) e muito acima do ferro (490). E se fizer uma liga do urânio empobrecido com uma pequena quantidade de titânio, vai obter um material ainda mais resistente;


propriedades incendiárias - o urânio empobrecido queima, chegando a ser parecido com o magnésio nesse aspecto. Se você queimar o urânio em um ambiente com oxigênio (ar comum), ele vai entrar em combustão e, dessa forma, queimar com uma chama muito intensa. Acho que dá para ter uma idéia do estrago que o urânio em combustão pode fazer quando estiver dentro do alvo.

Essas três propriedades fazem com que o urânio empobrecido seja uma escolha óbvia na hora de criar bombas arrasa-bunkers avançadas. Com ele, é possível criar bombas extremamente pesadas, fortes e estreitas, todas essas características que lhe dão uma tremenda força de penetração.

Mas você deve estar se perguntando, "estão esperando o quê então? Há algum problema?" O problema é o fato de que o urânio empobrecido é radioativo. Os EUA utilizam toneladas de urânio empobrecido no campo de batalha e, no final do conflito, isso deixa toneladas de material radioativo no meio ambiente. Por exemplo, a reportagem da Revista Time: tempestade de areia nos Balcãs (em inglês) diz:

Aviões da OTAN despejaram mais de 30 mil bombas de urânio empobrecido durante a campanha de ataques aéreos que durou 11 semanas, deixando cerca de dez toneladas de escombros espalhados por Kosovo.

Provavelmente, 300 toneladas de armas de urânio empobrecido foram usadas na primeira Guerra do Golfo. Quando queima, o urânio empobrecido forma uma fumaça de óxido de urânio que é facilmente inalada e se acomoda a quilômetros do ponto onde foram utilizadas. Após ser inalada ou ingerida, a fumaça radioativa do urânio empobrecido pode causar vários danos ao corpo humano. Veja Como funciona a radiação nuclear para mais detalhes.

Armas nucleares táticas
O Pentágono desenvolveu armas nucleares de uso tático para atingir até os bunkers mais reforçados e profundamente enterrados. A idéia é combinar uma pequena bomba nuclear com um invólucro de bomba de penetração para criar uma arma capaz de perfurar o solo por longas distâncias e, então, explodir com força nuclear. A B61-11, disponível desde 1997, é a arma mais avançada que existe em matéria de arrasa-bunkers nucleares.

De um ponto de vista prático, a vantagem de uma pequena bomba nuclear é que ela consegue abrigar muita força explosiva dentro de um espaço muito pequeno. Cnsulte Como funcionam as bombas nucleares para detalhes. A B61-11 pode transportar uma carga nuclear de 1 quiloton (mil toneladas de TNT) a 300 quilotons. Para que você possa fazer uma comparação, a bomba usada em Hiroshima tinha uma capacidade de aproximadamente 15 quilotons. A onda de choque causada por uma explosão subterrânea tão intensa causaria danos em camadas profundas do solo e supostamente destruiria até a casamata mais fortificada.

No entanto, do ponto de vista ambiental e diplomático, o uso da B61-11 cria uma série de problemas. Um deles, é que não há maneira de nenhuma bomba de penetração já produzida se enterrar tão profundamente no solo a ponto de conter uma explosão nuclear, o que faz com que a B61-11 deixe uma cratera imensa e libere uma enorme quantidade de dejetos radioativos no ar. Em relação à diplomacia, a B61-11 é problemática porque viola o desejo internacional de eliminar o uso de armas nucleares.

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